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Poemas & Poesias


Meu Melhor Amigo

Enviado por Marcos Falcon em 11/27/2010 8:05:53 AM

Meu melhor amigo Tenho escrito bastante sobre passagens e fatos de minha infância, e em vários deles aparece a figura do Giba. Gilberto Francisco de Oliveira, ou Beto ou ainda Pelé. Nos conhecemos quando fui morar no Morro do Querosene em 1954 com apenas três anos de idade, a mesma idade do Giba. Giba era criado pela dona Manuela sua avó e pela tia Dita, pois sua mãe na oportunidade morava em Santos. A partir deste primeiro encontro, nunca mais nos separamos, tornamo-nos cúmplices quando crianças e adolescentes, parceiros na juventude e compadres na vida adulta. Quero escrever algo ocorrido entre o Giba e eu, para manter o registro em minhas publicações, e por pedido do próprio escolhemos a estória do único dia em que brigamos e nos separamos. Brincávamos no quintal de casa quando dona Nair, minha mãe, pediu para irmos ao açougue do seu Joaquim, onde tínhamos conta na caderneta, para comprar um quilo de carne moída. Ela sempre nos orientava a não comprar a carne já moída e sim pedir para o açougueiro cortar um quilo de patinho magro e somente depois de cortado e pesado eu deveria pedir para ele moer. Chovia muito naquele dia, e isto não seria obstáculo e sim mais um motivo par nos divertirmos andando pela enxurrada que descia o morro pela rua de terra batida, formando pequenas poças. Armado com um grande guarda-chuva de meu pai e descalços, tomamos o caminho, onde de imediato encontramos com o Clóvis, filho da dona Maria do seu Sebastião. Clovis tinha a nossa idade que na época deveria ser de seis para sete anos. Era um verdadeiro capeta, bom de briga e um dos melhores “subidores” em árvores da nossa geração. Agora éramos três a caminho do açougue a brincar nas enxurradas e pouco se preocupando com a chuva sendo os guarda-chuvaapenas um empecilho que atrapalhava nossa folia. Comprei a carne, observando as instruções de minha mãe, e seu Joaquim a embrulhou, primeiramente em um papel manilha e depois em várias folhas de jornal. Enquanto eu aguardava seu Joaquim marcar na caderneta, o Clovis e o Giba saíram do açougue com a carne e o guarda-chuva e se esconderam de mim. Sai do açougue e passei a procurar pelos dois, andando rápido pelo caminho da volta e agora sem brincar, pois estava preocupado com a carne e com o Guarda-chuva de meu pai. Encontrei os dois escondidos atrás dos postes que seriam colocados na estrada de Itaquera, que na oportunidade estava sendo pavimentada pela primeira vez. Não seio qual o motivo, se bem que moleque não tem que ter muitos motivos para agir de forma assim ou assado, os dois passaram a me desafiar e me irritar, gritando que eu não os pegaria e que eles estavam carregando um quilo de “Bos...” e não de carne. Eles mantinham uma distância de aproximadamente uns 30 metros de onde eu me encontrava e acredito que por alguns instantes haviam esquecido que eu era um dos exímios atiradores de pedra da vila e que aos meus pés estava uma farta munição, as pedras de brita que seriam utilizadas na pavimentação da estrada. Não tive dúvidas, Atirei a primeira que bateu no poste. De imediato o Clovis e o Giba levantaram a cabeça e novamente caçoaram de mim e até eu pegar outra pedra e atirar eles já estavam protegidos pelos postes. Peguei duas pedras, uma menor na mão esquerda e uma baita na mão direita. Atirei a da esquerda no poste e preparei de imediato a da direita e atirei. Bingo, bem na cabeça do Giba. O sangue vermelho forte contrastava com a pele negra do meu amigo e escorria pela testa misturando-se com a água da chuva que naquele momento já ensopava suas roupas. Giba de imediato jogou o pacote de carne na avenida e saiu gritando de dor em disparada para sua casa. O Clovis escafedeu-se. Juntei os pedaços do embrulho de carne, todo molhado e já misturando patinho com jornal e sai em disparada ao encontro do Giba. Encontrei-o passando sobre a pinguela do rio Verde e pude ao longe presenciar o exato momento em que ele atirava o guarda-chuva no leito do rio. O Guarda-chuva foi levado pela correnteza que estava forte em função das chuvas. Deixei o que sobrou do pacote de carne sobre a pinguela e corri pela margem do rio até a primeira curva onde o guarda-chuva foiçou enroscado. Agora com o guarda-chuva com as varetas todas retorcidas e com uma massa disforme de carne com papel fui para minha casa. Dona Nair já me esperava no portão, sabedora das notícias trazidas pelo Giba, que naquele momento havia sido levado pela minha prima Ilzete para a farmácia do Seu Barreiros. Levei uma das maiores surras de minha vida, apanhei pela carne, pelo guarda – chuva e pela cabeça rachada do Giba. Na semana seguinte as aulas tiveram início e eu fui para a escola do Grupo Escolar Alvarez de Azevedo. O caminho natural de minha casa para a escola passava pela frente da casa do Giba, e eu com medo de encontrá-lo ia pela linha do trem da Central do Brasil. O Giba ainda não tinha completado a idade para ir à escola e só iniciou alguns meses depois, quando completou sete anos de idade. Durante este período ele estudava numa pré-escola ao lado do Campo do Falcão do Morro. Lembro como se fosse hoje o dia em que o Gilberto fora apresentado pela professora dona Maria (a bicuda) para a classe. As carteiras eram duplas e eu de imediato levantei a mão e pedi para ele sentar-se comigo. Neste momento passei a ter meu amigo novamente a meu lado, e ele me contou que também havia mudado o caminho para ir a pré-escola do Falcão do Morro, pois tinha medo de me encontrar. Nunca mais brigamos na vida. Ficamos fisicamente distantes por vezes em função dos caminhos do destino, porém nossos corações estiveram sempre um ao lado do outro. Grande abraço meu velho amigo. Espero ter sido fiel aos fatos neste texto. Marcos Falcon.

Email do autor:marcosfalcon@uol.com.br

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